ARTE E
CELEBRAÇÃO LITÚRGICA
(G. L. Morgano)
A expressão artística facilita o acesso do homem e portanto da assembléia celebrante aos níveis mais profundo do mistério.A estética do lugar,dos objetos, das insígnias e das vestes litúrgicas situa a comunicação do homem com Deus a uma altura necessariamente mais elevada que a
linguagem corriqueira.
A arte a serviço do mistério
O Vaticano II ensina: "Entre as mais nobres atividades do espírito
humano contam-se com todo direito as belas-artes, principalmente a arte
religiosa e sua melhor expressão, a arte sacra.."(SC 122) . A intenção
da Igreja não é portanto, separar a vida do culto, o homem e seu mundo da
celebração, mas facilitar o encontro dentro de um âmbito de dignidade, decoro e
beleza, como expressão da infinita beleza de Deus, sinal e símbolo das
realidades que se celebram em favor dos homens. Por isso a arte cristã em geral
e a arte litúrgica em concreto sempre buscam o equilíbrio entre a
funcionalidade e a forma e entre a verdade e a beleza, de tal maneira que a
forma esteja a serviço da finalidade da liturgia e a beleza se converta no
rosto visível da verdade.
Mas cabe ainda aprofundar-nos um pouco mais um tema, levando em conta o
mistério de Cristo, ícone de Deus invisível. A conduta do próprio Jesus, quando
ordena aos seus discípulos de preparar a páscoa na "sala do andar de cima
da casa, uma sala ampla, com mesa e divãs"(Lc 22,12), se presta também a
levar em consideração a importância das formas a serviço da celebração.
Cristo, fundamento da arte litúrgica
Na verdade Jesus assumiu tudo que é próprio do homem, exceto o pecado (cf. Hb
4,15), Por isso mostrou a beleza de seu rosto a todos aqueles que o
contemplaram com olhar limpo e sem ódio. Foi seu rosto humano, no qual se
refletia a gloria de Deus (cf. 2 Cor 4,6), que fez Santo Agostinho escrever,
imaginando-o: "É belo no céu e belo na terra; belo no seio de sua mãe,
belo nos braços de seus pais; belo ao ser açoitado, belo quando convida à vida,
belo quando está próximo à morte; belo quando entrega seu espírito, belo ao
tomá-lo de volta; belo na cruz, belo no sepulcro, belo no céu". (
Santo Agostinho, Enarrat.in Ps 44,3, BAC 246, Madri 1965).A beleza do rosto de
Jesus é o sinal de que a encarnação alcançou realmente a matéria, chegando de
verdade a ela e transformando-a a partir de dentro. Em Cristo a matéria
encheu-se da energia do Espírito, e se fez espiritual, isto é, portadora do
Espírito que é capaz de chegar a todo homem e a toda realidade criada. A
presença e o poder do Espírito de Deus em Jesus, que habitava nele desde a
encarnação, derrama-se e se expande por toda a humanidade e por todo o criado
depois da glorificação: "O Espírito do Senhor encheu universo"
(Sab 1,7). A beleza natural do homem e da mulher uniu-se à beleza divina que
lhes foi comunicada por Jesus Cristo, a fim de que cada um se converta , por
sua vez, em meio de transformação de tudo quanto geme sob a
escravidão do pecado (cf.Rm
8,19,22).
A beleza das coisas e a beleza das obras de arte, obra de Deus e obra do homem,
respectivamente, são sinais de salvação, um sinal da presença gozosa do divino
no humano criado. Neste sentido a arte, especialmente quando está a serviço da
liturgia, representa a transfiguração do criado, a verdade das coisas
resplandecendo na luz.
Neste Jubilar da liturgia esforcemos-nos para tornar mais belo também o rosto
das nossas Igrejas.