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TV´s Católicas, posso falar?

Frei Patrício Sciadini, OCD

Gosto de dar entrevistas, falar na TV e me sinto bem com o meu programinha para gente de chinelos de dedo como eu, na TV Século XXI, onde comento o Catecismo da oração, e espero ajudar as pessoas a compreenderem o mistério e a importância do nosso diálogo diário com o Deus da vida. Sem a oração a Igreja, o mundo, o ser humano param, porque não teria sentido viver sem entrar em comunhão com o Senhor, criador de tudo. Sinto-me bem quando sou convidado pela Rede Vida, especialmente no "Terceiro Milênio", e pela Canção Nova para falar de Santa Teresinha. Não sou um teve-dependente que passa horas e horas diante da telinha. Prefiro muitas vezes mergulhar na leitura de um livro ou dar espaço à minha oração, estando "a sós com Aquele que sei que me ama", para entrelaçar com ele uma história de amizade cada vez mais simples. Porque o amor, com o passar dos anos, se faz simplicíssimo e Deus é simplicíssimo.

Mas nestes últimos tempos nem sempre tenho conseguido dormir, dizem que é a terceira idade que vai se aproximando e que acontece isto. Na verdade sempre tenho dormido muito pouco. Teremos tanto tempo depois de mortos para dormir, descansar e viajar sem pagar bilhete para todos os lugares do mundo. Do paraíso nos será permitido ver de camarote tantas coisas bonitas, porque não deve ter por lá TV que passa novelas, filmes de guerras e de terror. No céu tudo é luz, é brilho, esperança e vida. Mas, não conseguindo dormir, tenho passado pela sala da televisão e, como um insone que nada interessa e tudo interessa, tenho me divertido a passar de canal em canal de TV e aí me tenho dado conta de coisas que me têm feito pensar. E, pensando que tantos meus irmãos de bom sono não tenham tido a possibilidade de ver porque dormem sonos tranqüilos, quero colocar em evidência.

Vários canais de TV apresentam nestas altas horas da noite programas religiosos, quando muitos insones andam sem saber como chegar a madrugada ou, com diz o salmista, "esperam mais ansiosos do que o vigia o surgir da aurora". Anunciam os evangelhos sem parar, e apresentam temas sumamente interessantes: "como superar o sofrimento", e as dicas de sempre, estereotipadas, velhas, falsas, mas sempre enganadoras e novas: "pare de sofrer", e aí vem uma série de aconselhamentos, de reportagens, de anúncios "dietéticos" que não fazem nem bem e nem mal. São paliativos, mas um remedinho paliativo nestas horas faz bem e engana a dor.

Mude de canal e lá se vêem, transmitidas da catedral da fé, do santuário do descarrego, imagens de orações de vigílias, e estão abertas as linhas telefônicas através das quais o povo pode se comunicar e contar as suas experiências de dor. E depois de cada fala aí se convida para os grandes cultos e concentrações religiosas, para que possa ter a possibilidade de superar os momentos difíceis e ter um encontro libertador.

Mude de canal e se vê aí, sem parar, outros pregadores que são inexperientes, "pregadores noturnos" que estão preenchendo o tempo mas que estão se preparando para o amanhã, conversando sobre a palavra de Deus e acolhendo especialmente testemunhos de irmãos e irmãs que venceram o "demônio" e que agora estão libertos. Muda ainda de canal e você se encontra aí com outros movimentos religiosos como seishonoiê, ou a legião da boa vontade e espíritas que não perdem tempo, mas se aproveitam de tudo para poder comunicar a própria ideologia.

Mude de canal e chegue ao canal da Rede Vida e você vê propaganda de jóias e de outras coisas tantas... Não seria o momento deste canal ter pregações, atendimento, programas que sejam voltados para tantas pessoas católicas que também sofrem de insônia e andam mudando de canal de TV em busca de algo que possa ajudá-los a vencer os momentos difíceis que estão passando? E as outras TVs católicas? Por que não sabemos nos unir para fazermos melhor e podermos assim chegar em mais casas, em mais famílias através deste meio que é o "evangelizador eletrônico", do qual não podemos mais libertar-nos?

Ou nós o aceitamos e sabemos usá-lo bem ou ele nos engole e nos sufoca por todos os lados. Não é mais tempo de estar a ver os navios passarem. Todos os meios, me responderá alguém, custam... e muito. Mas a união não é capaz de fazer a força, de nos unir para causas boas, justas e santas? Por que será que a CNBB, com toda a força que ela tem, não conseguiu ainda ter um periódico, um jornal diário de cunho católico, competitivo, para os católicos, tipo - para se entender - ...o "Avvenire d'Itália"? Não é o momento de acordar-nos do nosso sono e nos unirmos? E não ficarmos mais preocupados com os nossos pequeninos jardins quando poderíamos ter um belíssimo pomar, onde todos pudessem comer à vontade e sobraria? Perdão, não me levem a mal. Não sou culpado; culpada foi a noite insone, ou quem sabe que me foi enviada a insônia para ver isto e falar...