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A Igreja se posiciona

Com freqüência a CNBB tem se pronunciado sobre temas da atualidade social, política, legislativa e judiciária com ampla discussão nos meios de comunicação social.

Ninguém, hoje, fica indiferente perante as tomadas de posição da Igreja, para as acatar ou criticar. Em muitas nações é ela a entidade de maior credibilidade perante a opinião pública, católica ou não.

O Papa, embora criticado por alguns setores como intransigente e conservador, é o único homem público capaz de atrair milhões de pessoas à sua passagem. É o homem público de maior força moral, com coragem de enfrentar governos e parlamentos em defesa de valores que eles querem desconhecer ou destruir.

Mas, afinal, o que faz a Igreja Católica ser uma das mais vigorosas instituições do mundo, que, a despeito de tão grandes transformações, se mantém há dois mil anos firme e atuante?

É que a Igreja possui, acima de tudo, uma mensagem – o Evangelho – cujos princípios éticos continuam a ser o grande desafio do ser humano. Foi esse conteúdo valorativo que tornou a Igreja o que ela é e, se ainda hoje ela influi na vida de milhões de criaturas, é porque a esperança de afirmar a dignidade da vida humana permanece viva na mente e no coração de grande parte dos fiéis que procuram vivenciar a solidariedade no seu dia a dia. Somente com o testemunho é que podemos afirmar os valores éticos e cristãos, e a história da Igreja tem sido o valor desse testemunho.

Não existe Igreja no ar, só no campo das idéias. Ela é uma realidade divino-humana e, sob o aspecto humano, ela se concretiza nas pessoas humanas. Assim, Igreja somos nós. São as famílias cristãs e os grupos juvenis. É a hierarquia eclesiástica. São os religiosos e religiosas de vida consagrada. São os movimentos de espiritualidade e de voluntariado.São os missionários e missionárias que deixam sua família, sua terra, a sua comodidade e passam viver a dura realidade dos povos subdesenvolvidos, de populações marginalizadas, discriminadas, uma madre Teresa de Calcutá, o papa João Paulo II que percorre o mundo inteiro afirmando os valores da paz, da vida e do espírito. São os que trabalham em nossos colégios, hospitais, asilos e creches espalhados por todo o mundo, manifestando o amor de Deus por meio da caridade e da promoção do ser humano.

O compromisso da Igreja é com a dignidade da vida humana. Portanto não poderá aceitar as formas de opressão, violência e miséria que inviabilizam o bem individual e o coletivo. Não pode conformar-se com a banalização e o desprezo pela vida desde a sua concepção até a morte natural. Não pode aceitar a cultura da morte. Como instituição universal, deve se empenhar para que sejam minimizadas as aberrações que provocam as injustiças e as perversidades existentes no mundo, tanto do ponto de vista social como no moral e espiritual.

Sob o aspecto social, a Igreja reafirma a disposição de trabalhar conjuntamente com as forças da sociedade livremente organizada e dos poderes temporais constituídos para promover ações capazes de erradicar definitivamente a miséria.

Do ponto de vista moral, a Igreja considera o subjetivismo e o individualismo exacerbado, o consumismo ilimitado, o utilitarismo pragmático, o imediatismo irresponsável, a cultura do descartável e, principalmente, o hedonismo, a prepotência do mais forte sobre o mais fraco, a supremacia de um povo sobre outro, a escravidão dos mais pobres aos mais ricos, a corrupção ativa e passiva, como práticas que ferem os princípios éticos, distanciando as pessoas umas das outras, acirrando o egoísmo e os ódios incontáveis, enfim, afastando os seres humanos da solidariedade e do afeto, necessários para uma convivência menos aterradora.

Finalmente, sob o prisma espiritual, a Igreja reforça a fé na salvação do homem, quando cada um de nós for capaz de se libertar dos condicionamentos que nos amesquinham diante do próximo e de Deus, e quando o mandamento maior de Cristo for vivenciado por todos com verdadeira intensidade.

Por defender os valores que dignificam a vida humana é que a Igreja permanece viva e atuante.

“O respeito pela pessoa humana implica que se respeitem os direitos que decorrem de sua dignidade de criatura. Estes direitos são anteriores à sociedade e se lhe impõem. São eles que fundam a legitimidade moral de toda autoridade. Conculcando-os ou recusando-se a reconhecê-los na sua lei positiva, uma sociedade mina sua própria legitimidade moral” (Catecismo da Igreja Católica nº 1930).

06 de Julho de 2004


Cardeal Geraldo Majella Agnelo
Arcebispo de São Salvador da Bahia, BA
Presidente da CNBB