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A SEXUALIDADE NO ANTIGO TESTAMENTO

Pe. Gilberto Kasper*

            Enquanto os povos do Oriente Próximo divinizavam o sexo e a corrente gnóstica posterior o desprezava como potenciamento do corpóreo, o Antigo Testamento via na sexualidade uma realidade criada por Deus: “E Deus criou o homem a sua imagem, a imagem de Deus o criou, macho e fêmia os criou” (Gn 1,27).

            A diferença dos sexos vem, portanto, da vontade criadora de Deus. O fato primordial não é, porém, sua sexualidade mas sua personalidade diante de Deus. Essa personalidade se realiza em relação de recíproco amor determinado pela sua corporeidade e sexualidade.

            O Antigo Testamento fala tanto da bondade fundamental da esfera sexual quanto da culpa do homem por tê-la pervertido. O homem é “imagem e semelhança” de Deus não enquanto sexuado, mas porque com toda a sua personalidade, afeto e amor sexual, pode expressar um amor que o torna semelhante a Deus.

            O homem é a “imagem de Deus” na sua capacidade de gerar a vida e submeter a terra (cf. Gn 1,26). Ele pode ter uma relação pessoal e responsável com Deus. Na sua responsabilidade entra também o justo ordenamento da vida sexual. O Antigo Testamento descreve alguns matrimônios (Isaac, Rebeca, Jacob, Raquel . . .) deixando claro que a sexualidade encontra no amor pessoal entre homem e mulher sua realização, abraçando toda a vida e, no matrimônio, como realização de tal amor. Tudo isso está contido na afirmação segundo a qual o homem abandona o pai e a mãe para tornar-se “uma só carne” com a mulher (Gn 2,24). Segundo a antropologia veterotestamentária, a unidade “em uma só carne” indica a união pessoal humana total. Somente em tal união o dom sexual de si, no sentido estrito da palavra, é atualizado de maneira sensata e legítima.

 

*Professor de Filosofia, Ética e Cidadania na UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto